segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Para quem?

"vazio
invisível
perdido
inseguro
sozinho
triste
ansioso
dramático
idiota"


Sempre via em filmes, uma grande perda, uma grande mudança na vida do personagem. Do dia pra noite, mudavam-se os pensamentos e, como em um passe de mágica, mudava-se a vida. Um grande lutador, um grande escritor, assim, do nada, surgia. A pessoa acordava o que estava adormecido dentro dela, como se o determinado fato abrisse a porta da genialidade ou da total disciplina e abnegação.

Por muito tempo pensei (e desejei) sobre quando e de quê forma isso aconteceria comigo, ou se aconteceria.

Presenciei acidentes, corpos ao meio, mortes, roubos, seqüestros, desonestidades, injustiças, brigas, sangue... Perdi muita coisa material e muitas coisas não materiais que eu realmente dava valor, chorei, ri, comi, dormi, e nada aconteceu. Fracassei milhares de vezes em meus objetivos, não consegui nem metade do que eu esperava ter na minha idade, e nada. Por mais triste, feliz ou mesmo nervoso que eu fique, parece que essa chave não liga, nada muda.

Quando começamos a tocar guitarra, nas primeiras aulas, a maior dificuldade não são os acordes ou as posições que não estamos acostumados, mas sim a dor que você sente na ponta dos dedos depois de algum tempo, até a formação dos calos. Calos nos dedos.

Ao contrário dos filmes, acho que na maioria dos casos em que as pessoas sofrem com algo, não são abertas portas mágicas para um caminho glorioso, mas são formados calos, como nos dedos dos alunos de violão. Assim, depois de um tempo é mais fácil agüentar certas coisas, de se importar menos com a dor e prestar mais atenção na posição para tirar o som perfeito do próximo acorde. Aprendendo com os erros, e reconhecendo que eles são necessários. Assim que se aprende a tocar violão. E assim que se aprende a observar a vida.

Não me lembro de nenhum momento em especial em que ganhei uma força extra depois de um acontecimento, mas sinto meus calos, vejo meus calos, por qualquer lugar que olho, eu os reconheço. Eles impedem que eu sinta as dores de um principiante e me ajudam a observar onde foi exatamente que o som saiu desafinado.

Com calos, sem calos...

Uma grande perda? o que seria isso? ... Qual o nível de intensidade que uma pessoa agüenta? Quanto tempo um ser humano consegue viver sozinho? Isolado? Sem amigos, sem família. Sem futuro, vivendo sempre do básico, sempre da mesma coisa. Até que ponto uma pessoa pode realmente amar a outra? Até que ponto ela pode sofrer pela outra? E a dor? Até que nível agüentamos a dor física? Que tipo de influência os pensamentos podem nos causar? ... Até quando é possível gostar de um pessoa sem dizer a ela? ...

Pretendo descobrir as respostas por mim mesmo , mas será doloroso ... eu não sei tocar violão.

Um comentário:

Anônimo disse...

aha!

gosto destes textos, desde que vc tinha o outro blog. sentia falta deles.