sexta-feira, junho 29, 2007

Às vezes eu
Só quero turn off
Sem um pingo de pensamento
Ausência total
Silêncio.

domingo, junho 24, 2007

O Homem que Sabia Fingir.

"Ora, o que é a vida? É uma espécie de comédia contínua em que os homens, disfarçados de mil maneiras diferentes, aparecem em cena, desempenham seus papéis, até que o diretor, depois de tê-los feito mudar de disfarce e aparecer ora sob a púrpura soberba dos reis, ora sob os andrajos repulsivos da escravidão e da miséria, força-os finalmente a sair do palco."

Erasmo de Rotterdam



Ele não era especial. Acordava, trabalhava, comia, dormia; tudo dentro dos limites da normalidade e rotina. Até mesmo seu nome era comum: Sebastião.

Sebastião não percebeu quando ou onde, mas sua tolerância e calma com o vulgar se esgotaram.

Olhou para os lados e viu que não tinha sua própria casa, olhou para fora e lembrou que não tinha carro, passou a mão pela estante e sentiu não ter livros; olhou para si mesmo e chorou por não ter mais a juventude e algo que pudesse valer mais que um salário mínimo.

“Sebastião...”, pensava ele, “você não vale mais que um mísero salário mínimo”.

Naquela tarde pensou em se matar, mil modos e maneiras de fugir do terror em que acordara. Porém como pode haver morte onde nunca houve vida?

Sebastião resolveu viver.

Acordou triste no dia seguinte, porém enganou a si mesmo: levantou cantando músicas populares, dançando, distribuindo “bom-dia” para todos os seres vivos e não vivos.

Não se sentia bem em momento algum, mas resolveu fingir. Sem conselhos de sábios mestres, sem ter estudado teorias filosóficas de críticos católicos, sem nenhuma instrução, fingia por conta própria, o puro e verdadeiro fingimento de Sebastião.

Meses se passaram. Sebastião havia resolvido simular ser superior ao seu próprio chefe de departamento, onde trabalhava, para sentir-se melhor. Agia como um sujeito mais esperto e sagaz que seu vigia, adotava posturas novas, palavras diferentes, expressões faciais e corporais distintas do velho Sebastião.

Imitou o chefe do departamento, depois atuou no escritório, contracenou com o subgerente, passou texto com o gerente, e depois de aproximadamente um ano e meio lá estava Sebastião representando com o dono da empresa.

Outras atuações ocorreram nesse tempo de um ano e meio.

Sentia-se sozinho toda a noite, sem ninguém para conversar, sem alguém para rir ou chorar. Aventurou-se no modo mais puro da representação: o amor!

Patrícia era jovem, bonita, inteligente, simpática e elegante. Sebastião era muito mais que isso. Atuou bem e recebeu como prêmio, seu Oscar de melhor ator, o coração da moça, devota e totalmente sincera em seus sentimentos.

Sebastião não disse à Patrícia ser mais jovem, mais rico, ou mais inteligente, ele a convencia, a forçava a vê-lo ao seu modo.

O lado triste e verdadeiro de Sebastião, que sempre o lembrava que tudo não passava de mera interpretação, foi se calando aos poucos, até que tornou-se um ponto pequeno no espírito jovem e contagiante. Mas ele voltaria, Sebastião sabia disso, mas fingiu esquecer.

Os dias foram passando assim. Meses, anos, décadas...

Sebastião agora tinha casa, carro, mulher, dois filhos, livros de encher os olhos e a alma, salário milionário e uma saúde incrível para sua idade.

Acordado na madrugada enquanto fingia estar lendo entusiasmadamente, Sebastião começou a pensar nas outras pessoas que são como ele era; pensou nas que são piores do que era; pensou na fome, no frio, na morada na rua. Pensou muita coisa.

Começou a sentir nojo de si mesmo, enquanto divertia-se mascarando a realidade com suas hipocrisias sem tamanho. Achou necessário mudar sem causar danos aos amigos e parentes cativados pelo fingimento, continuava a ser o homem feliz para eles.

Sebastião empenhava-se todo o dia para ajudar os necessitados e carentes. Doações grandiosas, eventos, confecções de roupas e até mesmo um projeto ousado de moradia. O mais notório homem da cidade, e o mais doente.

O câncer não se desenvolveu calma e silenciosamente, causou danos e gritaria, mas Sebastião não lhe deu ouvidos.

Até sua morte ninguém jamais soube de algo que levantasse a menor suspeita de sua doença, antiga vida ou do sofrimento solitário. Sebastião foi impecável desde o começo até o fim de sua peça magnífica.

Sua morte foi em um dia chuvoso, carregado, triste, pesado.

Não houve expediente na cidade, não houve riso algum, todos sentiram a grande perda.

Patrícia chorava pelo marido mais perfeito que já existiu, os filhos pelo melhor amigo e educador, os amigos pelo melhor sujeito, a igreja pelo cristão mais puro, o sócio pelo melhor empreendedor do estado, os pobres pelo mais bondoso, os ladrões pelo mais respeitado, os parentes pelo homem que mudou de vida pelo esforço.

A natureza chorou o único homem que soube viver.
E choveu durante toda a semana.

Hoje em dia os boatos sobre Sebastião ultrapassam a casa das centenas. Ainda ocorrem os conflitos para torná-lo um santo. Livros foram escritos, poemas e músicas cantadas.

Os escritos sobre ele dizem que Sebastião sabia exatamente o dia em que iria falecer – sem apresentarem maiores explicações.

Patrícia nunca casou-se novamente. Deu continuidade ao trabalho do marido e morreu poucos anos depois.

Como soltar fogos pelo braço.


sábado, junho 23, 2007

The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde Junior.


Altivo.

Bocejo,
Mas não
Tenho sono

Estou sentado
Com a mão
Apoiando o queixo

Tudo é tão fácil.

domingo, junho 17, 2007

Meteoro Boy - Passado, Presente, Futuro. ->1.


->2.


-> 3.


-> 4.


Essa sequência (1-4) seria parte de uma história futura do Meteoro Boy .

Mas Meteoro ficou Marc Spector demais.

TV.


quinta-feira, junho 07, 2007

The Old Knight Returns.

O Velhão.
The Old Knight Returns.

Fiquei pensando em como poderia ser um Teaser Trailer das histórias do Velhão.

Depois de um tempo rabiscando, percebi que esse é um personagem que possui personalidade própria.

"Mas ele é um velho, um simples senhor sem habilidades." - Batman.

"Com todo respeito, mas ele deve estar dormindo a essa hora! rá!" - Homem-Aranha.

"Patético!" - Wilson Fisk.

-

"Depois de anos respeitando o território dos outros super-heróis, me escondendo, sendo paciente, preservando um sentimento neutro, sou obrigado a mostrar aos meus companheiros o que estava evitando demonstrar. Depois dos recentes e vexatórios incidentes envolvendo Peter Parker, o que chamam de Homem-Aranha, decidi transformar suas calúnias em armas, que durante a humilhação, serão usadas totalmente contra ele, e os outros." - Velhão, em pronunciamento recente para o Planeta Diário.
"Outrora, o Deus Celestial entregou ao morcego uma cesta que continha toda a escuridão, e lhe pediu qua a levasse até a Lua. Mas o morcego foi descuidado, deixando a peça no solo, onde foi aberta por outros animais. E assim, a escuridão escapou.
Hoje, o morcego passa todas as noites voando sem parar, numa tentativa de confinar as trevas de volta no cesto. E durante seus vôos, ele avista muitas coisas secretas."

Hellboy
Paragens Exóticas

A produção e reprodução : o trabalho.

Esquema de uma parte fundamental da teoria marxista.


sábado, junho 02, 2007

O Cachorro e o Anão - 2.



Talvez você me pergunte o motivo da mudança do anão e seu cachorro. "Por quê?"
Acredito que a mudança se deve ao fato do anão ter conseguido comprar ,e ler, todas as melhores histórias do Demolidor já publicadas até agora. Ou não seja nada disso, talvez só esteja feliz por ter achado uma camiseta de super-herói, coisa impossível na cidade onde mora. Ou mais impressionante ainda: ter conseguido uma máscara idêntica ao do Homem sem Medo para seu cachorro. Ou ele está satisfeito porque acha Frank Miller muito bom e o Demolidor ... segundo suas palavras ... "simplesmente genial!".





A Função de um Elogio.

A função de um elogio,
Sincero,
É animar o estado
Do espírito triste,
Severo.

A função de um elogio
Cheio de bem-aventurança
É acariciar a alma,
Não extrair dela
O último fio de esperança.

Como um verme
Em frente à mariposa
Contempla
A forma que queria ser,
Triste e angustiado,
Na realidade que é
Não poder...

...recebo com fraqueza
O elogio
Da que contemplo.
Com prazer,
Porém com pesar e pena
Pois, na realidade,
Não a posso ter.
Um dia passado
Mais esforços minguados
Mais risos festeiros
Pedras roladas
Arapucas armadas
Uma terra jogada
Pelo coveiro, matreiro
Da seqüência finita,
Do sepultamento.
O fim
Descanso
Lamento.

Mais um dia nascente!
Esperança ardente,
Pensamento elevado,
Futuro amado,
Piedade sincera:
Pó mágico jogado
Pelo coveiro, matreiro
Da seqüência engraçada
Da aposta humana
Na melhora
Passa o dia...
Piora.

Mais um dia passado.

Dez Minutos.

- Fora por dez minutos! – disse o professor, tímido.
- Merda... foda-se!
- E não jogará na quinta que vem! – ousou ainda mais o subordinado, crescendo sobre o garoto.
- Eu vou!
- Não vai!
- Meu pai paga isso aqui. Eu vou jogar!

Fim de conversa. Espanto do professor, amedrontado e perdido. Glória do aluno, confiante e decidido, fora do jogo... por dez minutos.

O Guardador de Carros.

Sentia-se feliz por trajar um jaleco branco e usar uma bolsa com o emblema do local onde trabalhava, acessórios exclusivos dos médicos e residentes do hospital, mas era apenas um guardador de carros.
Incomodava, no começo, os funcionários, os cirurgiões, as enfermeiras, seguindo-se sempre e perguntando sobre doenças e remédios. Era somente o guardador de carros, porém com o tempo ganhou a simpatia dos médicos. Começou a ser tratado como tal, ganhou seu próprio jaleco. Tudo de brincadeira.

Foi também de brincadeira que conversando com um vizinho de bairro dentro do ônibus, declarou-se um dos médicos principais do hospital. O vizinho, com problemas de saúde, pediu ajuda: remédios para livrar certas dores estranhas de sua mulher grávida de poucos meses. Com ares de doutor, escolhendo algumas difíceis palavras ao acaso e complicadas denominações de remédios por ele desconhecido, o guardador de carros receitou de forma segura o medicamento a ser comprado.

Seu vizinho angustiado voltou a contatá-lo dias depois, sua mulher estava pior e o remédio receitado só era vendido sobre prescrições médicas. Foi com entusiasmo infantil que o guardador de carros do estacionamento do hospital escreveu então sua primeira receita, na folha exclusiva do hospital, com marca própria, endereço, assinatura do diretor geral. Analisada friamente pelo farmacêutico, foi constatada a veracidade da autorização feita pelo guardador de carros.

Passaram-se dias, meses, e o guardador não viu mais seu vizinho no ônibus, ou em parte alguma. Ele havia se suicidado, após sua mulher ter perdido seu futuro filho e entrado em profunda depressão. O filho pequeno do vizinho ficou gravemente doente também, pois sua mãe não o alimentava corretamente; depois da morte do marido ela mal se movia.
Os médicos e funcionários do hospital não ficaram sabendo do ocorrido, nem mesmo o falso doutor soube. E continuaram o tratamento ilustre ao grande amigo guardador de carros. Afinal... era tudo brincadeira.