sexta-feira, março 30, 2007

Sentado.

Ouço e vejo
Tudo mais uma vez.
E com sono penso
Na utilidade, de fato,
Deste meu repetitivo
Enfadonho e cansativo
Ato.

William Wilson.

Temperamento imaginativo.
Será que foi somente isso
Que guardei
De William Wilson?

sexta-feira, março 23, 2007

Mais uma dominada.

Existe neste lugar algo que poda minha criatividade e capacidade de pensar. Pelo menos hoje, talvez um caso especial, considerando que já criei boas coisas aqui, depois de um almoço preguiçoso. Porém não é horário de almoço, muito menos preguiçoso, confuso caberia melhor.
Tenho fragmentos de idéias agora na minha mente. Vem e vão. Aparecem, dão "oi" , acenam, correm antes de eu responder. Assim fazem todas. Os argumentos dos livros, os desenhos não riscados, as boas palavras não escritas. "Oi" e correm. Alguns nem dizem oi, só passam correndo por minhas costas, fazendo barulho e troçando de mim se escondem antes de eu conseguir vê-las.
Alguns fragmentos até se apresentam, uns dois ou três. "Olá, sou o argumento contra a definição da arte aritmética de Escobar", "E ai? Sou a inspiração para os desenhos de mecanismos e objetos ao seu redor", "Sou a capacidade de concentração para a leitura, rá rá", essa última sempre se identifica, é a que mais corre e ri, faz piada e gira, como gira essa maldita. Não me resta muito a fazer, anoto o mais rápido possível seus nomes para mais tarde, quando se acalmarem, chamá-las para conversar em particular.
Chateio-me quando alguma fração apresenta-se com identidade falsa, se demora um pouco mais, segurando o riso, feição séria e voz imitada. "Eu sou a tira mais engraçada". Fico feliz e me ponho a desenhar, percebo que os desenhos saem tortos e deformados. Ouço o riso quase que instantaneamente, não só do fanfarrão, mas de todos os outros que se escondem sei lá onde.
Algumas vezes consigo aplicar uma chave de braço, pego a idéia pelo colarinho e forço a mostrar-se por inteiro. Nunca é o que diz ser, um dos pontos negativos é a arrogância que possuem, sempre se rotulando a melhor entre todas.
E nessa batalha ferrenha contra eu mesmo prossigo até sair do território inimigo. Uma vez fora, compito de forma justa e igual, mas nunca ganho a guerra.

segunda-feira, março 19, 2007

One by one.

Well,
Another
Day

What did you
Learn today?

domingo, março 18, 2007

sexta-feira, março 16, 2007

Bipolar .

Havia começado a chover a pouco tempo, quando olho para fora, distraído com minhas obrigações banais, e vejo um homem estranho, chegando da chuva para perto da porta. Andava em um ritmo descompassado e estranho, movia pouco os braços, como para poupar energia. Uma calça qualquer, uma camiseta azul e um chinelo de dedo lhe eram suficientes como vestimenta, e não se importava, andava na chuva.
Passou e olhou para dentro, aparentemente tímido, sem dizer nada. Olhou para a placa no lado de fora, olho para os lados e passou novamente, pela frente.
Evitei olhá-lo diretamente, algumas vezes isso incomodava os novos clientes, olhava para frente, cuidando de meus afazeres.
Alguns minutos depois de sua análise pessoal, resolveu entrar, como que somente para olhar.
Olhei para minha companheira de trabalho, e entendi que aquele afastamento por onde ele andava significava que seria eu seu atendente.
- Boa tarde...
- Só conhecendo...
- Certo, fique a vontade.
Não ficou, e se encolhia algumas vezes, ou se mexia como se pequenos choques o fizessem andar para trás.
Passou algum tempo e ele veio me falar, enquanto eu arrumava as embalagens de arroz no seu devido lugar.
- Vocês... Conseguem consumidores para esse tipo de produto?
- Sim... Muitas pessoas estão procurando saber mais e nos visitam para sab...
- Você estuda? - me interrompeu em um tom estranho.
- Sim, vou prestar vestibular no fim do ano.
Perguntou o preço da goiabada e pegou a primeira da fileira.
- Vou levar uma...
Com a goiabada nas mãos, ficou mais um longo tempo calado observando meu trabalho, sem demonstrar nenhum interesse.
- E você? Estuda? – perguntei forçadamente para diluir o silêncio.
- Não... – dizia sempre estranhamente – comecei dois cursos superiores, mas acabei desistindo...
Estranho era conversar com ele, suas frases soavam incompletas e demonstrava estar sendo pressionado por alguma coisa, por dentro.
- Desistiu por quê? Não era sua área?
- Eu gostava, mas os medicamentos não me deixavam disposto a assistir as aulas, sempre dormia ou perdia o raciocínio.
Agora eu estava sozinho, minha parceira tinha se retirado para os fundos depois da última frase. Não sabia se prosseguia ou parava com a conversa, com medo do seu jeito agressivo passivo, mas ao mesmo tempo curioso em saber o quê perturbava esse rapaz.
- E você medica o quê? – perguntei hesitante.
- Ah, não me lembro direito – disse coçando a cabeça e agitando-se – sei lá, é muito forte, é... ah ..
Já não queria mais saber, sua irritação não demonstrava condescendência com o misterioso mal.
Assustei-me ao vê-lo mover-se e contorcer-se enquanto se lembrava da doença que remediava. Porém a revelou sem muito enrolar, disse:
- Sofro do transtorno bipolar!
Assustado e admirado em conhecer uma pessoa com essa famosa doença, olhei para o rapaz e entendi o significado de como alguém pode se sentir uma aberração.
Olhando para baixo e envergonhado, ele falava com uma voz calma, novidade até então.
- Mas eu sou normal, pra mim estou normal... ah, nem quero mais saber, não to nem ai, consigo conviver com as pessoas, não gosto de remédios e de médicos ...
- Remédios nunca fazem bem realmente. - disse isso em vão, pois deixando o dinheiro da goiabada, para chuva o jovem já havia saído.
Por fim voltou minha parceira receosa, me olhando assustada, perguntando sobre essa experiência louca que futuramente ainda será contada.
Minutos depois se foi embora também a chuva, e o sol voltou novamente forte e luminoso a brilhar, achei bizarro o fenômeno, e no meio dos pensamentos confusos de pouco tempo atrás achei a idéia que o iria consolar:
- Relaxa, até o clima sofre de transtorno bipolar.

domingo, março 04, 2007

Sobre índios e alienígenas.

Percebendo que seus investimentos não progrediam e suas economias se acabavam rapidamente, o homem procurou explicações além da crença comum, buscando seitas e religiões alternativas para conseguir as respostas que as outras não deram.
E foi em uma dessas, sem nome e sem registro, que encontrou o que procurava.
Foi informado que estava possuído, mas não por demônios convencionais que vemos se apossando de pessoas pela cidade afora, eram espíritos distintos, um espírito distinto, pois o outro não podia ser chamado assim.
O homem ateu se chocou com a notícia, duvidou, e relutou em aceitá-la, porém devido ao grande caos e fracasso em que sua vida se encontrava, não teve outra escolha, abraçou a última opção e se deixou envolver pelos mistérios da seita sem nome.
Cada dia mais afundado em sua própria tristeza, o homem sentia que tais espíritos não só consumiam sua força como também seu espírito, sua alma. Desesperado com tal pensamento, o homem correu logo à seita e pediu uma resolução para o caso, um exorcismo, um fim aos espíritos que o dominava.
Algumas semanas se passaram depois do começo dos rituais, e verificou-se que o caso do homem era realmente incomum, talvez o mais incomum dos casos de possessão já registrados, ou não registrados. Tratava-se de dois espíritos, dois espíritos que arruinaram a vida do homem e consumiam, a cada dia mais, seu corpo e sua mente, um índio e um alienígena.
Chocado com tamanha constatação e se sentindo e agindo como aberração, foi tratado com cuidados especiais e iniciado na arte da seita que iria curá-lo, aprendendo passo a passo as verdades de seus médicos e sendo instruído sobre o quê deveria ser feito para o exorcismo.
Não eram conhecidos os motivos da posse da alma do homem pelo índio, mas não era o primeiro caso de invasão indígena, os feitiços e textos para a expulsão estavam prontos, feitos em outras épocas por outros mestres, para outros casos. Porém nada se sabia a respeito do alienígena, o quê queria ou por qual motivo estava ali. Conheciam sim a existência de seres de outros planetas, estudos sobre eles já haviam sido realizados, mas possessão? Não tinham histórico até então.
Sabia-se de três tipos de alienígenas que visitavam frequentemente a Terra, os cinzas, maus e assassinos, os verdes, apenas cientistas espaciais inofensivos, e os azuis, que combatiam os cinzas, portanto, aliados. Para o caso do homem, estava claro o fato de ser o cinza o invasor, mesmo sendo desconhecida essa capacidade.
O homem ouviu o lamento dos magos e crentes da seita, não havia nada para ser feito a respeito do alienígena. O índio seria expulso facilmente através de um ritual a meia-noite no lado leste da cidade, descobriu-se através de livros e orações que aquela região era a antiga aldeia massacrada por conquistadores em busca de novas terras para expansão da cidade, não teria erro, seu espírito se apegou no corpo do homem, pois o tinha como escolhido para ajudar toda sua tribo presa a Terra, no local da antiga aldeia.O homem foi escolhido pelos indígenas. Sua falência material e mental não era culpa desses, mas sim do invasor de outro planeta, o alienígena cinza.
Desolado, o homem decidiu ajudar os índios. Faria o ritual por eles, somente por eles, já que a expulsão do alienígena era impossível e sua vida estava amaldiçoada para sempre. E assim se sucedeu.
Meia-noite, a fogueira foi acessa e iluminava agora as vidraças dos prédios construídos sobre corpos e mais corpos de homens, mulheres, crianças e animais que antes habitavam o local, eles continuavam ali, espíritos presos pela raiva e crueldade de suas mortes, apenas esperando pelas palavras libertadoras dos magos que ali também estavam presentes.
O homem sentiu náuseas e fortes contrações musculares depois de ouvir o feitiço dos mestres, e enquanto observava a fogueira crescendo e dançando numa bonita e ao mesmo tempo macabra apresentação, seu antigo hospedeiro indígena saiu como uma brisa forte de seu corpo. Gritando e ao som de tambores invisíveis, o índio carregava preso em seus fortes braços o alienígena cinza que se debatia tentando voltar.
Estáticos e assustados diante da manifestação material do extraterrestre cinza, só restaram aos magos assistirem ao tronco em chamas atravessando-o pelas costas, e seu algoz, o homem, cheio de fúria, o espancando, ao som dos tambores dos indígenas agradecidos, com o tronco ardente até a forma cinza e esguia do ET se tornar em uma massa disforme e em chamas no chão.

E assim foi a história. Ainda não se sabe o porque da invasão do alienígena, nem se o índio realmente escolheu o homem por achá-lo especial ou se o possuiu para livrá-lo do corpo cinza maligno no momento exato, o salvando da morte certa.

No trabalho. (2)


Não é uma crítica.

No trabalho. (1)


Esse série de desenhos mostra meus desejos ocultos (seria mais certo dizer reprimidos) em relação ao meu trabalho.
Converso com pessoas o dia inteiro, cada dia uma pessoa nova aparece com uma história irreal para contar, sempre alimento minha insanidade pensando nas possibilidades além dessas histórias. Com certeza meu talento de vendedor seria melhor aproveitado se eu recebesse livre arbítrio sobre minhas vestimentas ou meus modos de persuadir os clientes.
Passo boa parte de minhas horas de trabalho pensando nessas novas possibilidades, e pensando em realizá-las, porém sou apenas um empregado, por enquanto. Daqui há algum tempo quem sabe, posso abrir uma loja de HQ/CD e utilizar todo meu potencial.

DOCO - o artista. O jardineiro fiel.


Velhão em cores.


Primeiro desenho em cores que faço do velhão.

Uma das coisas que não gosto nos quadrinhos de hoje é a cor digitalizada, tudo super realista e saltando da página. Para o Velhão pensei em cores mais chapadas, nada de objetos vivos e músculos perfeitos, até porque o personagem não pede isso.
Amenizei o tom de verde e deixei mais azul o tom roxo das cores velhônicas originais, criadas pelo Ulisses, não me recordo bem das cores que vi nas histórias originais, tirei base nas cores que ele me passou em 2004, durante alguma aula de alguma coisa.

quinta-feira, março 01, 2007

DOCO - o artista.


Minha singela homenagem a todos os artistas que com pouquíssimo esforço nos alegram com seus defeituosos e grotescos desenhos pela vida afora. Seja em charges de jornais ou em tiras cômicas, eles estão lá para nos lembrar que para se dar bem com a arte é só inventar alguma teoria e justificativa para sua suposta criação e sair por ai divugando-a , mesmo sendo ruim, o argumento é o que conta. E o mais incrível, além de criarem obras sem nenhuma estrutura ou sentido, nossos amigos inspiram outros indivíduos a prosseguirem sua trajetória e manter assim o cilclo da arte livre .
Fui inspirado também, depois de ler OTA, meu mestre, criei um personagem para minha arte livre e grotesca , "DOCO - o artista" .
Por que DOCO?
Para ser um artista desse calibre, é fundamental ter um nome de 2 sílabas, o mais estranho possível, olhe o OTA, o Sassá, Tako , é primordial o nome no processo.
Depois é só pensar em qualquer coisa e jogar no papel. É só deixar fluir, sair de dentro .
...
Não se engane, a arte já se perdeu entre os artistas virtuais, essa nova "arte virtual" . É fácil ser artista, ninguém se liga mais no que realmente significa fazer arte, e não estão nem ai na verdade. Artistas espontâneos, "ups, fiz arte!".
Quer ganhar dinheiro? parta para as exatas, deixe o espaço criativo para quem realmente sente o que é fazer arte ... ou pelo menos se preocupa em passar algo através dela que não seja gana.
"Não é só porque Meg White não sabia tocar bateria que você também irá se tornar rico e famoso tocando em uma banda um instrumento que não domina."