segunda-feira, julho 14, 2008

Como não fazer nada.

Como não fazer nada? Absolutamente nada?

O trabalho condiciona o sujeito a sempre fazer algo. A pressão que sente quando está em casa assistindo TV é a mesma de quando está ocioso no trabalho.

Não estou bem certo se isso ocorre com todos. Provavelmente não.

Depois de muito trabalho e suor, o operário chega em casa para descansar. Pensa em todas as possibilidades. Sorri para todos os que estão na mesa, senta-se e decide descansar.

Dois minutos depois se levanta incomodado com as companhias, resolve se ausentar, fazer outras coisas.

O operário tem rádio, TV, computador, MP3 Player, Discman, DVD, internet, CD’s, roupas, brinquedos, lápis, livros, revistas, comida, cama, chuveiro, carro, óculos escuros e quase todos os apetrechos indispensáveis para a vida moderna que leva. Ele pensa.

Poderia ouvir música, mas no momento qualquer som o desagrada; poderia escrever, mas não quer pensar; ver filmes nem pensar, está ansioso demais; ler levaria muito tempo; internet o pertuba, a máquina o consome. Deita na cama e fecha os olhos. “Como Da Vinci administrava o seu tempo?”, pensa, incomodado com o tremor da mão direita. “É o nervosismo”.

Em um momento se encontra em uma roda, gigante, onde tudo gira rápido o bastante para que os objetos ao redor não sejam identificados. Ele não se segura mais, solta o apoio e cai de braços apertos no meio do perturbador redemoinho de sentenças, atos, obrigações, futilidades e ideologias. “Como Jesus Cristo”.

Sua busca por uma vida com sentido destruiu sua própria existência.

Por que tinha tudo aquilo? Quantos livros ele realmente entendeu? Quantos objetos realmente usou? Muito menos da metade dos que possui, muito menos.

Quatro dias inteiros para descansar, depois de meses e meses de trabalho intenso, uso incessante e irracional de sua força de trabalho.

Sempre se questionou sobre a real utilidade de seu esforço, mas sua vida passava de um modo abstrato, irreal. Como se estivesse assistindo uma ópera, não conseguia sentir seus atos, agarrar suas visões. Era um espectador. Sufocado por histórias e convicções alheias. O que aconteceu com seu sonho?

Ele não estava morto, os mortos já viveram. Sabia que antes de conseguir viver precisava ir mais fundo que a morte, ir mais longe que o inalcançável e tocar o inatingível.

2 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes me sinto assim...tenho tanta coisa, mas nada me preenche, tudo parece ilusão.

Thiago disse...

sim ...

mas, estudando antropologia e lendo dostoiévski, eu realmente percebi que tudo - tudo! - é construção cultural (materialmente falando e em alguns casos de relacionamentos, porque também tem a parte fisiológica do homem e etc... isso daria um bom post ) .