- Não sei explicar o que aconteceu, doutor. Eu simplesmente fiquei tonto e vomitei.
- Mas não é possível. Por que fez isso, afinal de contas?
- Foi uma loucura. Fiquei intrigado com aquele fluxo que não parava; que ninguém nunca interrompia depois de começado. Fiquei revoltado e forcei a bexiga para parar; parou, mas tudo ficou escuro; senti náuseas, fraqueza. Quando dei por mim já havia vomitado e estava com as roupas todas mijadas. Além do chão do banheiro. Um horror, Dr. Paulo, um horror.
- Mas você conseguiu interromper?
- Sim, por pouco tempo. Até onde consegui suportar a dor no estômago.
- Muito bem, meu caro. Você acaba de abrir uma fresta de uma das portas abandonadas da medicina. Mas fique tranqüilo, não há nada de errado com seu organismo. O que sentiu foi momentâneo, devido ao esforço que fez. Nada mais. Só não tente isso novamente.
Acabado o dia, Paulo voltou para casa, pensando no caso estranho de seu paciente, e nas conseqüências ainda mais estranhas que o ato causou. Conversou com sua mulher sobre o fato, mas não com seu filho, temendo uma atitude semelhante do garoto, que ficaria mais curioso que ele próprio.
Na madrugada, dentro do banheiro e prestes a urinar, lembrou do paciente. Resolveu averiguar. Depois dos dois segundos iniciais, forçou a bexiga para prender o líquido. O choque da interrupção foi tamanho que Paulo inclinou-se de dor. Escorregou e bateu a cabeça na pia: relaxou seu abdômen, mijando-se todo. Recuperado do choque, embaraçado, Paulo tentou erguer-se, mas sentiu-se mal. Vomitou no chão limpo, mas já com poças de urina, do banheiro.
No dia seguinte foi trabalhar com uma faixa na cabeça; com vergonha da mulher, que o viu no lastimável estado lavando o banheiro na madrugada, e com a lembrança de sua finada avó, que sempre dizia: “Nunca prenda o xixi, Paulinho”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário