sábado, setembro 15, 2007

Cabra macho, sim senhor!

Rosemar sentia-se triste pela vida que levava.
No dia 29 de outubro, Rosemar procurou a liberdade. Esperou seu filho dormir, sua mulher roncar, o grilo cantar antes do galo, e, sentado na única mesa da casa, ao lado de uma garrafa d’água e um sujo copo quebrado, decidiu embebedar-se – como em um dos dois filmes que teve a oportunidade de ver no decorrer da vida, e que chegou cálido e confortável na memória.
Encheu o copo – com a água da garrafa – e mandou pra dentro. Tá! – o copo bate na mesa – o líquido desce resistindo, quente, rasgando. Mais um copo, mais outro. Tá! Tá! Tá! ... Rosemar sentia a realidade, tomada em goles.
Quando o galo cantou, após o grilo, quando o negro da noite acinzentou-se, Rosemar enlouquecia de melancolia; triste como os bezerros criados para a vitela, Baby Beef. Porém Rosemar não era boi, muito menos bezerro, era cabra macho! Era chama forte que, um dia, ardeu e iluminou longe, carne de pescoço, como disse o poeta. Todavia, em meio aos Beefs e carnes tenras, a chama esmaeceu; sobrou uma chama pequena, como as que dançam com dificuldade no topo da vela. Ali estava Rosemar, sentindo o formigamento do corpo; dando fim a um potencial. Não digam que não sofreu, que não chorou.

Três curtos dias depois no hospital, Dr. ... deu a notícia à família:
- Foi coma alcoólico, sinto muito.

Na cabeça dos conhecidos a última imagem foi o sorriso. Mas Rosemar não sorria quando, refestelado na cadeira, olhando para o chão, entregue à inércia e sufocado pela tristeza, sentia o momento de sua morte.

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