Vi um senhor de idade sentado em frente à sua casa.
Achei fenomenal sua postura, o trançado da cadeira, o brilho do aço exposto ao sol, a tranqüilidade que ele transmitia.
Não tive tempo de sentar e desenhar ali na hora; não tinha máquina para fotografar.
Quando tentei me lembrar, posteriormente, de todos os detalhes do quadro que havia presenciado, só veio-me na cabeça minhas formas pré-definidas de sempre. Minha arte manjada e de total influência de artistas de quadrinhos. Um desenho fácil, simples, esquemático e sem emoção.
Oscar Wilde diz, no livro do Dorian Gray , que se conseguíssemos mostrar plenamente o que sentimos através da arte - livros, quadros, músicas - esqueceríamos de guerras, ódio, mesquinhez, enfim, toda essa bobagem em que vivemos hoje em dia. Viveríamos por arte e para arte.
Recordo remotamente alguma passagem da Bíblia, que diz que ao homem não foi dada a capacidade de lembrar-se nitidamente de seu passado, de coisas vistas - não recordo da conclusão do versículo.
Incomoda-me muito esse fato. A única coisa que me incomoda, na verdade. O fato das pessoas não ligarem, simplesmente, de levarem uma vida patética e sem significado.
E aos que ligam, e já experimentaram o gosto da excelência - como escreveu Harlan Ellison na introdução do Sandman - Estação das Brumas - , a realidade se torna um peso enorme de tédio e banalidade.
Isso explica o fato da maioria dos artistas, bons e verdadeiros artistas, serem considerados esquisitos, extravagantes.
Eu não diria isso, digo que são raros, muito raros!
"Talvez seja este o único aspecto desalentador da excelência: ela transforma a vida num mundo medíocre, algo muito semelhante a um inferno. É uma percepção sutil, mas desesperadora."
Harlan Ellison
"... creio que se o homem vivesse uma vida plena, completa, se desse forma a toda sensação, expressão a todo pensamento, realidade a todo sonho, creio que o mundo conquistaria um impulso, tão novo, de alegria, que nos esqueceríamos de todos os males do medievalismo e retomaríamos ao ideal helênico, a algo mais requintado, mais substancial mesmo, quem sabe."
Oscar Wilde
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