segunda-feira, maio 21, 2007

Seguia pela rua segura, inseguro. Olhava para baixo, cabisbaixo, no escuro, no silêncio.
Voltava sempre tarde; tarde demais para tudo. Nunca alguém na rua, era tarde.
Andava com pressa, ansioso.
Não ouvia, mas em certo momento eu via: uma menina, criança demais, brincando com sua boneca, virada para uma parede de alguma loja fechada. Estava quente, senti frio.
Ela estava sozinha; era tarde, escuro, silencioso, fechado, tarde demais para qualquer um estar na rua. Mas ela estava lá, sem pai nem mãe, rindo. Enquanto eu voltava para casa, com a boneca ela brincava, virada para a parede do comércio fechado, escuro demais.
Se me viu, não se importou, não se virou. Passei ao seu lado, com medo, inseguro, ansioso e com pressa. Pois sabia que não era uma menina, era tarde demais.
Intoleravelmente tarde para uma boneca na rua.

Nenhum comentário: