quarta-feira, maio 09, 2007

Poderes Mutantes.

É revoltante o esforço que alguém que busca silêncio tem que realizar para achar um local tranqüilo, sem falatórios ou músicas pop “estuprando seus ouvidos” (como disse meu amigo), para poder ler algumas páginas. Praticamente impossível a esse horário, onde a maioria das pessoas está indo aos restaurantes e lanchonetes para almoçar.
Estava pensando nisso enquanto andava em busca do utópico lugar. Pô, o que me alimenta nesse horário é a ausência de pensamentos relacionados com trabalhos e futilidades gerais, como se fosse um alimento em si, me dá forças pro resto do dia; não mereço um pingo de consideração? Esqueço-me do resto do dia na verdade, pois depois passo o tempo todo remoendo o que li, ou tentando decorar as passagens principais.
Passei por bares, com senhores encharcando-se de cerveja e falando alto e mole, olhei as padarias, com suas mesas ocupadas por pessoas apressadas comendo velozmente, passei em lan-house’s, com suas músicas modernas a mil e os gritos dos jovens falidos. O silêncio é mesmo muito raro.
Resolvi voltar ao primeiro lugar que fui, antes de andar pelas ruas buscando outra mesa, de onde tinham me obrigado a sair, pois a funcionária estava limpando o chão. Voltei frustrado e chateado, mas sabia que a limpeza provavelmente já teria acabado.
Era ali que eu passava meus horários de estudos normalmente, sempre com a música, a maldita música, pop, com seus gritos e extravagâncias eletrônicas. Mas eu gostava de lá, depois de um tempo de esforço era possível ignorar os ruídos do rádio.

A limpeza havia acabado. Sentei, derrotado; pedi um suco, peguei o livro e comecei a ler.
As poucas pessoas que ali estavam foram embora, a música parou, os funcionários pararam de conversar. E o mais impressionante, não menos assustador, foi ouvir “desculpa, você está lendo” da funcionária que ia falar comigo.
Silêncio.

Deus é bom, às vezes.
Ou seriam meus poderes mutantes?

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