quinta-feira, maio 03, 2007

Lágrimas e Cigarros.

- Vou comprar cigarro!

Vilma estremeceu. Sabia que depois dessa briga isso podia significar a fuga de casa do marido.
Seu relacionamento não ia bem. O dinheiro estava escasso, causa da maior parte das discussões entre ela e seu amado. Seus filhos passavam fome, a energia estava cortada, a conta da água venceria na próxima semana, e ela e seu marido, João, não conseguiam contornar a situação. Não sem emprego fixo. Mas ela o amava! Isso não seria o bastante? Para João não, ele se preocupava com sua vida.

- Vou comprar cigarros, mulher! Ainda me restam alguns trocados, vou gastá-los com algo para mim.
- Por favor, não vá João. Peço desculpas, não irei mais discutir com você – disse Vilma, aflita.
- Na nossa atual situação, mulher, não há como não discutir. Largue-me, irei comprar cigarros! – tentava livrar seu braço esquerdo das mãos trêmulas e fortes de sua esposa.
- Por favor, João, pense nas crianças, pense em mim. Sem você não conseguirei nunca sair desse buraco, não vá! ...
- Que história é essa, mulher?! O bar é ali na esquina, não demoro nem dez minutos, me solte! – disse empurrando-a levemente para soltar-se da mordaça humana.
- Me bata! Isso! Espanque-me até sua ira sumir, João. Antes uma mulher deformada fisicamente a uma infeliz sem forças, um ser inerte sem espírito, sem amor. Você é meu amor. Você, João!
- Ora! – livrou-se dela impetuosamente – você está louca, mulher. Eu sabia que isso não tardaria a acontecer, não no meio desta situação. Vá descansar, irei comprar cigarros...

E caminhando até a porta, João ainda a ouviu em sua última súplica. Antes do ataque de fúria suprema que tomou conta de Vilma.

- Outra! Você tem outra! Cretino, bastardo! Está me traindo, traindo sua família. – gritou Vilma, correndo na direção de João como um animal bestial.
- BASTA! Deixe-me em paz, mulher – respondeu João como um trovão, batendo a porta ao sair.

Estava só. Abandonada pelo marido. Jogada ao mundo com suas duas crias sujas e mal vestidas.
E na dor que a tristeza lhe causava, Vilma não conseguia ver outra perspectiva. Estava amargurada, desesperada, contraída pela dor do coração.
Foi até a cozinha. Seu rosto estava vermelho, irritado pelas lágrimas grossas e salgadas que lhe rolavam face abaixo, devagar e lentamente, como se aproveitassem de cada instante da dor de Vilma. Lenta e devagar. Pegou a faca, a mais afiada, com sua lâmina reluzente sorrindo para sua vítima, refletindo na sua fria superfície a expressão de dor e loucura dela.
Colocando-a sobre o peito, preparou-se para a afundar corpo adentro, quando de súbito, ouve-se a porta da rua abrindo-se e a voz de seu amado:

- Dane-se o cigarro, Vilma. Comprei pão e leite para as crianças. Vilma?

Um comentário:

Anônimo disse...

ficou foda